O percurso de Amélie Essesse é o de uma arquiteta movida por uma dupla paixão: o rigor técnico e o compromisso social. Formada em engenharia civil e de construção, licenciada pela Escola de Arquitetura de La Villette e especializada em cooperação internacional e desenvolvimento, centrou a sua prática no continente africano, com a convicção de que a arquitetura é uma alavanca de transformação.
A Terra como material do futuro
No centro da filosofia de Amélie Essesse está a defesa dos materiais e do saber-fazer locais. É uma defensora ativa da utilização da terra na construção, um material com propriedades térmicas excepcionais, perfeitamente adaptado aos climas africanos e com uma pegada de carbono mínima.
A sua alcunha no Burkina Faso, Kathi Roux, reflecte o reconhecimento do seu trabalho pelas comunidades. Simboliza uma abordagem que valoriza as técnicas ancestrais, adaptando-as às exigências modernas. Para Amélie Essesse, construir com a terra significa escolher um habitat que respeite o ser humano e o seu ambiente, e significa também lançar as bases para uma independência material face a importações dispendiosas e poluentes.
A arquitetura ao serviço do soft power africano
Nesta entrevista, Amélie Essesse destaca a importância da arquitetura, juntamente com a música, o cinema e a moda, na construção do soft power africano. Este termo refere-se à capacidade do continente de exercer uma influência positiva e atractiva na cena mundial através da sua cultura e dos seus valores.
Ao propor novas ambições criativas na arquitetura, participa ativamente neste movimento. O seu objetivo é promover a riqueza e a diversidade das culturas locais. Recusa o termo genérico “africano”, insistindo antes na necessidade de um conhecimento aprofundado do local e do glolocal, reconhecendo a existência de uma multiplicidade de identidades e de competências próprias de cada país e de cada grupo étnico.
Desta forma, incentiva os agentes do sector imobiliário e da construção em África a questionarem-se sobre os seus projectos: valorizam o seu património? Integram o saber-fazer local? A aposta é grande: oferecer uma habitação que não seja apenas funcional, mas que também conte a história do lugar e dê dignidade aos seus habitantes.
Arquitetura empenhada
O percurso de Amélie Essesse, desde os seus estudos em arte e arquitetura até à sua especialização em desenvolvimento internacional, permitiu-lhe desenvolver uma abordagem holística. Aprendeu não só a conceber estruturas, mas também a compreender a dinâmica da cooperação e do desenvolvimento sustentável.
O seu trabalho vai para além da prancheta de desenho. Participa ativamente em iniciativas como a Gala da Maison de l’Afrique, para discutir e promover a necessidade urgente de uma arquitetura que já não comprometa a estética, a tradição e a ecologia. Amélie Essesse é um pilar do renascimento da construção em África, apelando à valorização do património e do saber-fazer locais como base de uma prosperidade sustentável.
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