Roupa Bandama, uma marca feita em África
Na vibrante paisagem das indústrias culturais e criativas africanas, algumas marcas destacam-se pela sua visão, autenticidade e capacidade de inovação. A Bandama Clothing, fundada por Samuel Sauthier e os seus sócios, encarna esta nova dinâmica, transformando a cera numa linguagem universal e ética. Este artigo explora a ousada viagem de Samuel da Suíça para Abidjan e a génese de uma marca que continua a redefinir a moda “Made in Africa”, provando que um compromisso profundo e uma estratégia bem pensada são as chaves para o sucesso no continente e muito para além dele.
Da Suíça para a Costa do Marfim
O percurso de Samuel Sauthier até à moda africana é tão único quanto inspirador. Originário da Suíça, Samuel começou por desenvolver os seus conhecimentos em comércio internacional e até em jornalismo desportivo. Foi uma oportunidade inesperada na indústria do cimento que o levou à Costa do Marfim, um país que se tornaria a sua casa durante mais de oito anos. Esta viagem marcou o início de uma profunda imersão na cultura africana.
Apesar de um primeiro papel afastado do mundo criativo, a atração sempre presente de Samuel pela moda depressa ganhou forma. A ideia de Bandama nasceu em 2018, a partir do seu desejo de integrar a cera, este tecido emblemático, em modelos de vestuário contemporâneo. Este percurso atípico sublinha uma forte convicção: a paixão e a descoberta podem transformar uma carreira e conduzir a projectos inesperados e profundamente enraizados.
Bandama, o nascimento de uma marca única
A história da Bandama não é uma história de sucesso instantâneo, mas de construção metódica através da experimentação e da aprendizagem. Samuel descreve duas versões da marca. A primeira, lançada em 2018, foi uma fase de teste em que a produção foi subcontratada, recorrendo mesmo a cera chinesa para “não correr riscos imprudentes”. Apesar do rápido interesse dos clientes pelas suas camisas e bombers, esta abordagem limitou a liberdade criativa e o controlo de qualidade.
Isto levou Samuel e os seus sócios, o seu irmão Jean (Diretor de Marketing) e Fabien (Diretor de Conteúdos), a tomar uma decisão ousada: criar a sua própria oficina de alfaiataria em Abidjan. Em fevereiro de 2021, tomaram posse das instalações, contrataram as suas próprias costureiras e estabeleceram os seus procedimentos operacionais. Em 5 de setembro de 2021, a “versão 2” da Bandama foi oficialmente lançada, marcando um passo crucial para o controlo total da cadeia de valor. Esta abordagem evidencia um princípio essencial do empreendedorismo: a capacidade de iterar, de aprender com as primeiras experiências e de investir para consolidar uma visão.
Uma marca autêntica e inovadora?
A Bandama distingue-se pela sua forte identidade, baseada numa combinação de autenticidade e inovação. A marca aposta numa produção ética e responsável, oferecendo colecções limitadas (5 a 6 peças novas por coleção) para mulher e homem. A peça emblemática da Bandama é, sem dúvida, o Bomber, concebido inteiramente em cera, uma criação constantemente retrabalhada para combinar tradição e modernidade.
A escolha da cera não é negligenciável: Bandama privilegia a cera 100% algodão produzida localmente pela Uniwax na Costa do Marfim, garantindo uma qualidade superior e raízes locais profundas. A equipa injeta uma “boa energia” em cada design e em cada sessão fotográfica, com música original composta por Jean e Fabien, e uma relação quase familiar com os seus modelos, que se reflecte na autenticidade dos visuais.
Perante o desafio do plágio, que é comum no sector, Bandama não se limita a reagir, mas inova: “O plágio existirá sempre. O cerne da questão é saber como nos vamos destacar da multidão. É preciso estar sempre um passo à frente”, diz Samuel. É por isso que a marca desenvolve os seus próprios estampados e tecidos exclusivos, tornando as suas criações inimitavelmente “Bandama”. A ênfase está em contar histórias e construir uma comunidade leal, em vez de simplesmente vender.
Quais são as estratégias de desenvolvimento da marca Bandama?
A Bandama Clothing cultiva uma abordagem única na relação com os clientes e na distribuição. Embora o sítio Web continue a ser o principal canal de vendas, alimentado por uma presença ativa no Instagram (mais de 32 000 seguidores), o verdadeiro coração da estratégia da marca reside na sua oficina de costura em Abidjan. Aqui, Samuel dá prioridade às “visitas ao atelier”, onde os clientes podem conhecer a equipa, assistir a demonstrações e até encomendar peças por medida ou protótipos. Esta imersão cria laços humanos fortes e oferece uma experiência de compra única. “Criamos verdadeiras relações com os clientes e isso é simplesmente excecional”, confessa Samuel.
A marca é decididamente internacional, tendo feito entregas em mais de 40 países de todos os continentes. Os seus principais mercados são Abidjan (25-30% das vendas), França (um terço ou mais), Suíça (graças às suas origens e ao forte apoio da comunidade), seguida da Bélgica e do Canadá. A Bandama prova que uma marca “Made in Africa” pode conquistar o mundo sem abandonar as suas raízes.
O impacto da Pop Up Africa Now das Galerias Lafayette
A presença de Bandama na pop-up “Africa Now” nas Galerias Lafayette Paris Haussmann é um reconhecimento importante e uma oportunidade sem precedentes. “Não me atrevi a imaginar colocá-la na lista de desejos das Galerias Lafayette, mas, na realidade, é absolutamente fenomenal”, partilha Samuel. Esta visibilidade foi possível graças a contactos e relações sólidas estabelecidas em Abidjan, nomeadamente através de Thierry Bernat, que os colocou em contacto com Valérie Ka (Africa Fashion Up).
Para a Bandama, este evento representa não só uma importante oportunidade de venda, mas também uma inestimável alavanca de consciencialização e de criação de redes. Estar ao lado de outros 11 criadores africanos, cada um com a sua própria identidade (como Algueye ou Collé Sow Ardo), reforça a imagem de uma moda africana diversificada e de qualidade. É uma oportunidade para “desconstruir todos os clichés que possam existir sobre a moda africana” e para mostrar a excelência do “Made in Africa” num ambiente de prestígio.
A experiência é também rica em encontros humanos, com clientes que vêm especialmente e oportunidades para colaborações futuras. É um “encontro com o seu futuro”, em que o investimento, embora substancial, é uma aposta segura nos benefícios a médio e longo prazo.
Quais são as ambições de Bandama para o futuro?
O futuro de Bandama é prometedor e fiel aos seus valores. A marca quer continuar a desenvolver o mercado em Abidjan, onde a sua visão inovadora da cera intriga e seduz. Uma das principais missões de Samuel é levar a cera ao maior número possível de pessoas, sublinhando a “energia absolutamente louca” que este tecido proporciona.
O desenvolvimento da rede de distribuição em França, Suíça, Bélgica e Canadá é uma prioridade. As colaborações “ultra-secretas” já estão na calha, tal como uma parceria reforçada com a Uniwax. O sonho final? Uma boutique Bandama em Paris, para estabelecer uma forte presença física na capital mundial da moda.
Samuel Sauthier e Bandama Clothing encarnam o espírito de uma nova geração de empresários africanos: apaixonados, rigorosos, éticos e decididamente internacionais. A sua história é uma fonte de inspiração para todos aqueles que acreditam no potencial ilimitado do continente africano.
Ler também