Aïsha Deme, especialista em arte e cultura senegalesas, é a personificação desta nova geração de empresários que transformam a paixão num motor de desenvolvimento. Fundadora de Siriworo, uma estrutura de engenharia cultural, Aïsha convida-nos a descobrir o seu percurso desde a informática até à promoção da arte senegalesa e africana na cena mundial.
Da ciência à cultura, uma mudança ousada
Aïsha Deme tem um percurso muito diferente do habitual. Cientista de formação, começou a sua carreira como especialista em TI no sector bancário durante quase 15 anos. No entanto, a paixão pela arte e pela cultura, alimentada desde a infância através de exposições, concertos e teatros, levou-a a fazer uma mudança radical. Ao aperceber-se da ausência de uma plataforma dedicada à promoção de eventos culturais no Senegal, decidiu, em 2009, co-fundar a Agenda Dakar.
Embora tenha sido um passo arriscado – deixar um emprego estável pela incerteza do empreendedorismo – foi motivado por uma convicção profunda. Aïsha e o seu sócio, ambos “sonhadores” e movidos pela paixão, lançaram-se com uma certa ingenuidade. Os primeiros tempos foram difíceis: dois anos sem salário, a viver com as suas poupanças e a relutância dos anunciantes. “Foi um desastre”, admite, sublinhando a importância de um modelo de negócio sólido desde o início.
Agenda Dakar, pioneira na promoção cultural digital
Agenda Dakar, a primeira plataforma de agenda cultural em linha do Senegal, foi uma iniciativa pioneira para a sua época. Aïsha dedicou-se de corpo e alma ao seu trabalho, aprendendo novas competências durante a sua atividade: pesquisa de informação, redação de artigos e entrevistas a artistas. O seu trabalho árduo acabou por compensar: o público cresceu, em particular graças ao Festival Mundial de Artes Negras em 2010, quando a Agenda Dakar se tornou o ponto de referência para informações sobre eventos.
A plataforma atraiu patrocinadores e subsídios, permitindo à empresa recrutar uma equipa e desenvolver novos projectos. Ao fim de cinco anos, a empresa contava com doze pessoas e estava no auge da sua atividade. Aïsha decidiu então deixar as rédeas da empresa para se dedicar à consultoria, embora, infelizmente, a plataforma tenha posteriormente deixado de funcionar. Apesar disso, a sua comunidade, inicialmente constituída em torno da Agenda Dakar, manteve-se fiel a ela, pedindo-lhe constantemente recomendações culturais.
Kits de sobrevivência para a Bienal de Dakar
Fiel à sua paixão, Aïsha continua a criar conteúdos para a sua comunidade através das suas redes sociais. Em particular, está a desenvolver “kits de sobrevivência” para grandes eventos culturais senegaleses, como a Bienal de Dakar e o Festival de Jazz de Saint-Louis. Estes kits, cujo nome sublinha a complexidade destes eventos, fornecem informações práticas essenciais: datas, locais, artistas recomendados, procedimentos de acreditação e conselhos de alojamento.
“As pessoas não sabem o que nós pensamos ser óbvio e o que não comunicamos”, diz Aïsha. Estes guias tornaram-se indispensáveis para os visitantes locais e internacionais, demonstrando o seu papel crucial na democratização do acesso à informação cultural.
Siriworo, uma agência de consultoria dedicada às artes
A transição de Aïsha para a consultoria surgiu naturalmente, a pedido de artistas e organizações que reconheceram a sua experiência em comunicação e gestão de projectos. Com Siriworo, a sua estrutura de engenharia cultural, ajuda artistas (músicos, artistas plásticos, cineastas) e instituições a estruturar, organizar e mobilizar as suas iniciativas criativas.
A sua abordagem é orientada por uma ética rigorosa: só se compromete com projectos em que possa garantir a excelência. Esta exigência permitiu-lhe construir uma sólida credibilidade no Senegal. O seu conselho para os jovens artistas é claro: dar prioridade à comunicação, rodear-se das pessoas certas para não fazer tudo sozinho e dar-se a conhecer aos principais intervenientes do sector (galeristas, curadores), utilizando as redes sociais para chegar ao público.
Um olhar especializado sobre a ascensão da arte africana
Imersa na cena artística desde 2009, Aïsha Deme é uma observadora privilegiada da evolução da arte contemporânea africana. Vê uma “incrível ebulição” de criatividade no continente. Embora o reconhecimento das artes visuais nas galerias continue a ser um desafio, Aïsha Deme vê um claro progresso.
A arte africana é atualmente uma importante fonte de inspiração em todo o mundo. Desde os desfiles de moda da Chanel em Dakar até aos criadores de moda africanos nas Galerias Lafayette, o mundo está a voltar a sua atenção para África. Aïsha atribui este boom à vitalidade intrínseca da cultura africana, à ausência de barreiras graças às redes sociais e a uma nova geração de artistas que não tem medo de assumir a sua identidade e de se ligar globalmente. Aïsha vê uma “loucura pela criatividade africana” que se destaca pela sua mistura de influências e pela sua capacidade de atingir um público universal.
Um compromisso permanente com o futuro da cultura africana
Para além de Siriworo, Aïsha Deme foi co-fundadora da Music in Africa Foundation em 2012, uma iniciativa destinada a impulsionar a indústria musical africana e a promover ligações entre artistas do continente. Fez parte da direção durante cinco anos, dois dos quais como presidente, num ambiente muito dominado pelos homens.
Para o futuro, Aïsha tem uma série de projectos pessoais, incluindo a gestão de uma incubadora cultural e a criação de um fundo para artistas. Continua também a orientar, não oficialmente, jovens artistas e mulheres empresárias em África, procurando formas de formalizar este apoio. O seu objetivo é claro: apoiar a transmissão de know-how e contribuir para a estruturação de um sector que, está convencida, tem um potencial ilimitado.
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