A arte têxtil como linguagem da memória
A exposição PANO DA COSTA promete ser um poderoso diálogo visual e cultural, questionando o legado das culturas negras africanas pré-coloniais e o estigma da escravatura na sociedade brasileira contemporânea. Longe de ser uma simples exposição de moda, pretende ser uma obra total em que os têxteis se tornam a linguagem de uma história partilhada que continua a ser escrita em ambos os lados do Atlântico.
No centro desta criação está o artista visual afro-europeu Gombo. Radicado em Marselha, Gombo é conhecido pelo seu trabalho que desconstrói a visão eurocêntrica da história. Exprime a sua herança multicultural através da criação de motivos têxteis que se apropriam dos códigos da cera holandesa, um tecido emblemático nascido do complexo diálogo entre África, Europa e Ásia.
Moda, serigrafia e design colaborativo
O projeto Pano Da Costa é o resultado de uma intensa pesquisa e residência criativa no Gombo, em Salvador da Bahia, uma área profundamente marcada por influências africanas. Esta pesquisa levou à criação de uma série de motivos impressos que serão expostos sob a forma de serigrafias, esculturas funcionais (objectos vestíveis) e, sobretudo, peças de vestuário de moda.
A exposição destaca uma forte colaboração com jovens designers locais. A Gombo realizou um trabalho de orientação que levou à seleção de três criadores de moda afro-brasileiros:
- Rayzez, que explora uma estética poética que combina inspiração afro-brasileira e afirmação de identidade.
- Nos Macrame, uma marca colaborativa conhecida pelas suas criações de macramé tecidas à mão.
- Uanga, uma dupla enraizada na moda consciente e ética, promovendo a herança baiana.
Cada um destes designers produziu uma peça de vestuário incorporando um motivo original desenhado por Gombo, demonstrando a riqueza e a modernidade da moda consciente de Salvador.
MAFRO e Goya Lopes, reconciliando memórias
A exposição tem uma forte base institucional no Museu Afro-Brasileiro (MAFRO), que abre suas coleções para enriquecer o diálogo. O projeto foi também enriquecido com a participação de Goya Lopes, artista plástica e designer, pioneira da moda afro-brasileira, cujas estampas contam histórias de cruzamento cultural. A Fundação Pierre Verger e a associação Vale Do Dendê (especializada em empreendedorismo inclusivo) são também parceiros estratégicos, assegurando que o evento é um catalisador do diálogo intercultural e do desenvolvimento local.
A inauguração, que contará com a presença de todos os artistas e parceiros, celebra a arte como um meio de reconciliar memórias. A exposição de Pano da Costa, aberta ao público até dezembro de 2025, é uma oportunidade única para ver como a moda e a arte têxtil podem desconstruir a história e abrir novas perspectivas sobre o património afro-brasileiro.
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